Casa Kong
Quando deixei Hong Kong para fazer pós-graduação nos Estados Unidos, nunca me senti mal por estar longe de casa, a casa estava apenas a um voo de distancia, como sempre esteve, isto é, até que a casa ficou doente.
Hong Kong, Eastern Asia
Story by Andy Lee. Translated by Sweet Bean
Published on March 1, 2022.
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“Sentes saudades de casa?” amigos me perguntavam quando deixei Hong Kong para fazer pós-graduação nos Estados Unidos. Nunca me senti mal por estar longe de casa. Afinal, minha antiga doce casa estava apenas a um voo de distancia, esperando por mim como sempre, isto é, até a casa ficar doente.
Eu observei Hong Kong se tornando desfigurada nos últimos 12 meses: manchetes, após fotos após transmissões em directo mostraram a óbvia profanação da democracia [1]. Mais de dois milhões de pessoas marcharam dentro da cidade, segundo movimento de protesto em massa na década e o maior da sua história -só para verem os seus direitos básicos ignorados, removidos e criminalizados. Lutando para para identificar a cidade em que cresci, eu percebi que me sinto mal longe de casa. E neste tempo nenhuma estrada rural nem voo imparável pode me levar para casa para o lugar a que pertenço. Não há pista para pousar exceto a dura realidade de que a casa está morrendo.
Eu não sou o único se sentindo doente. Extremas saudades de casa é uma epidemia em Hong Kong. Uma vez campeã da liberdade de expressão e encontros fraternais a cidade agora é fria, cruel, terminalmente doente, e sangra. Isto é saudades de casa no seu pior.
Uma criança dos anos 90, eu pertenço a última geração de Britânicos de Hong Kong, nascido antes da passagem para a china continental em 1997. Nós fomos criados com incerteza: nostalgia pela conclusão de um capitulo histórico e antecipação por 50 anos de autonomia sob “Um-País-Dois-Sistemas” [2] Me esforcei duramente para os testes do ensino médio, revisando livros sobre Separação de poderes, Governo pelo Povo, e Estado de Direito- conceitos que cidadãos de 15 anos de idade precisavam para construir o futuro da nossa cidade ( os quais, sem duvidas, são removidos do programa agora). Em retrospetiva, muitos de nós tomamos aquele futuro como garantido- nossa narrativa mais desejada foi mal contada nos planos do Governo Chinês.
A união azedou logo depois da lua de mel. O aperto de mão amigável estendido de Pequim se tornou um aperto de mão excessivamente íntimo, até que as algemas apertadas espremeram toda vida para fora da cidade [3]. Uma década de protestos contra o controle Chinês culminou este ano quando a lei de <segurança <nacional passou por cima da constituição da cidade, o prego final no caixão contendo os restos da decadente democracia. Hong Kong emergiu de uma das cidades mais seguras do mundo para um estado policial, contando 9,200 prisões de manifestantes, 2,600 de feridos, e inúmeros “suicídios”
Observando de longe, primeiro senti dor, depois senti nada. Raiva reduzida a suspiros silenciosos, eu deslizo o feed de noticias: manifestantes sentenciados a prisão; oficiais do governo falando mentiras sem remorso. Contudo, eu vivo doze fusos horários longe do tumulto. Quem sou eu para se sentir desapontado, quando os maiores riscos que que assumo são bloquear amigos de infância que se juntaram a policia? Quem sou eu para deixar a esperança quando meninos de casa estão apostando seus futuros e suas próprias vidas?
Esperança começa ao nos apegarmos á aquilo que sentimos falta. Hong Kong sente saudades de si mesma, está morrendo, mas nós estamos imunes com a nossa identidade de filhos de Hong Kong. Nós podemos mudar essa curva se nossos corações ficarem em casa. Nós lutamos contra a opressão e injustiça com sombrinhas, capacetes, mascaras de gás, e nossas próprias historias pra contar. Mesmo que nossa casa está arrancada pela raiz, nos recusamos a fazer parte do governo sem a voz do povo. Afinal, o povo de Hong Kong não vai sucumbir pela doença de casa.
Juntos, curaremos ela.
Notas de Rodapé
[1] Hong Kong lamenta o fim do seu estilo de vida a medida que a China se racha em discórdia — História da National Geographic por Laurel Chor (1 de Setembro, 2020) https://www.nationalgeographic.com/história/2020/09/hong-kong--estilo-vida-china-rachar-discórdia/
[2] O Um-País-Dois-Sistemas é um principio constitucional de Hong Kong (e Macau) como uma região Administrativa Especial (SAR) depois de se tornar China em 1997. Debaixo deste principio Hong Kong SAR poderia continuar seu proprio governo, legal, sistemas económicos e financeiro, incluindo relações comerciais com países estrangeiros, independente da República Popular da China por 50 anos até 2047. “Corridas vão continuar e discotecas vão permanecer abertas” foi uma frase popular em Hong Kong em 1980 supostamente simbolizou a lenta transição da soberania de Hong Kong dos Britânicos para a China Continental. Na realidade, a autonomia que Hong Kong aproveitou durou pouco.
[3] Desde 1997, tem havido múltiplos e graduais gestos políticos de Beijing para expandir o controle sobre a cidade. Estes avanços de qualquer modo, se tornaram mais directos depois do ano de 2010. Em 2014, a administração de Hong Kong pressionada por Pequim, tentou uma etapa pseudo- democrática. Eleição do chefe executivo onde apenas candidatos pré- inscritos foram admitidos. Isto provocou o movimento do guarda-chuva em toda cidade, com a maior parte da cidade ocupada por manifestantes pacíficos carregando sombrinhas-No entanto terminou com amargura e frustração após três meses. No verão de 2019, quando uma lei de extradição que efectivamente permite autoridades continentais a extraditarem suspeitos políticos através de soberania jurídica, forçou o caminho para a legislatura, o povo não perdeu tempo para mobilizar outro clamor.
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